Mais uma etapa vencida
A 5 de maio de 1907, portanto a 36 anos, surgia, nesta progressista e aristocratica Princeza do Sul, o primeiro numero d’A Alvorada.
Pequenina, formato oitavo, com quatro páginas, repletas de materia dos mais inspirados escritores pelotenses, surgia na arena do publicismo.
Pequenina – sim, mas grande no seu raio de ação, pois o seu programa era e continúa a ser até hoje, um verdadeiro hino de correção, trabalhando sempre afincamente por tudo quanto diz respeito ao progresso de Pelotas e defendendo os interesses daqueles que procuram as suas colunas para defeza dos seus direitos.
Juvenal M. Pení e seu digno irmão dr. Durval M. Pení – foram os seus fundadores, dois dinâmicos lutadores em prol da unificação dos homens de côr, ideal que constituiu sempre a maior preocupação e carinho daqueles fundadores.
Não julgavam eles, que a sua folha tivesse construido um tão sólido alicerce, onde até hoje, após 36 longos anos, ainda se encontre, firma e inabalavel, com a mesma galhardia, pois contam-se ás dezenas os semanarios que aqui se fundaram e tiveram vida efêmera, não sabemos se por falta de energia combativa ou se por inexperiencia no manejo da vida da imprensa.
A luta titanica sustentada por esta folha, no decorrer destes longos e arduos anos de existência, atestam a força herculea e boa vontade dos seus dirigentes, na conservação de um sagrado patrimonio moral.
Pelotas conta, desde ha vários anos, com um só semanário, que é a Alvorada – atualmente a exclusiva direção do sr. Juvenal Peni, que não medindo sacrificios, apezar da crise que asserba a imprensa devido ao custo exorbitante da materia prima, nunca esmoreceu nem abandonou a linha de combate, vencido pelos tropeços que se acumulam na estrada do progresso das industrias e dos póvos.
As suas colunas, que sempre foram a tribuna livre de defeza de todos os desenvolvimentos em pról do progresso de Pelotas, continuam, ainda hoje, sem desviar-se do programa traçado, pugnando, cada vêz mais, pela conservação de tão importante patrimônio.
Alêm de ter cooperado por todos os meios para o progresso desta cidade, este jornal orgulha-se, hoje mais do que nunca, por ter sido o primeiro a dar o grito em pról da união e igualdade entre os homens ; pugnado pelo ensino obrigatorio em todo o territorio nacional; a questão das 8 horas de trabalho ; a campanha contra a empreza Teatro Guarani que não consentia a entrada de pessoas de cor na platéia.
Esta folha venceu mais lutas, como nas seguintes campanhas : evitou que se levasse a efeito um espetaculo de critica ao Negus, no teatro 7 de Abril, durante a guerra de Itália e Abissinia ; a questão racial em Porto Alegre, de um colégio dirigido por irmãos de caridade negando matricula a uma irmã de cor, filha de um oficial do exército nacional; e, ultimamente a ruidosa questão do carnaval de Pelotas.
Sente-se feliz por que todos esses problemas tornaram-se realidade.
Não lhe foi nunca possível, devido a incompreensão dos nossos irmãos de raça, transformar este semanário, num grande jornal, não só por ser uma tradição de Pelotas como por ser, tambem, o único jornal fundado e mantido por um homem de côr, que tem demonstrado através desses longos anos a sua correção e o amor a uma causa sagrada – a defesa e orientação de seus irmãos.
Não fosse uma força de vontade, esquecendo sacrificios e vencendo barreiras, ás vezes dificeis e esta folha teria baqueado como baquearam dezenas de hebdomadarios que circularam nessa querida Pelotas.
Nunca lhe faltaram colaboradores e a boa vontade do povo desta hospitaleira Princeza do Sul, pois em suas colunas figuraram e figuram, uma pleiade de escritores, que ornamentam com suas penas as paginas pequeninas mas gloriosas deste semanario.
Não citaremos nomes, apenas salientaremos a figura de Juvenal Pení, porque a ele e á sua constancia devemos a existencia d’A Alvorada.
Rendemos uma homenagem ás memórias de Antônio Baobad, dr. Juvenal Augusto da Silva, Jeronimo Fabião, Avelino Machado Lopes, José Tavares Nogueira, Francisco Verissimo Alves, Humberto H. de Freitas, cujos nomes ficaram para sempre gravados nas paginas deste jornal, como verdadeiros amigos, emprestando por intermedio de suas penas, manejadas com inteligencia, valioso concurso, que lhe vale hoje a aceitação que tem no seio da sociedade pelotense.
A esses, cujas memórias homenageamos, deve esta folha uma serie de serviços, razão porque nos curvamos ante seus tumulos num preito sincero de gratidão.
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Ao entrar, nesta data, no seu 37o ano de publicidade, A Alvorada sente-se feliz pela etapa vencida.
Orgulha-se e sente se feliz por poder hoje apresentar-se mais uma vez alvorando a bandeira da vitória conquistada com sacrificio, mas fiel aos compromissos assumidos no seu programa inicial.
Juvenal Peni, dirigindo o seu querido jornal, tem a auxilial-o nessa luta da imprensa, o esforçado sr. Dorval Belchiór, que ha dois anos vem secretariando a redação, com geral agrado e competencia.
Além disso, conta este jornal com uma turma de abnegados e competentes auxiliares tanto na oficina como na redação, que lhe emprestam o seu concurso valioso e eficiente.
O seu aniversário hoje, enche de entusiasmo aos que aqui mourejam, pois A Alvorada é, atualmente, a reliquia de um passado de trabalho e de sacrificios, vencidos pela sagacidade e tino administrativo do seu diretor-proprietario.
Esta folha firmando mais uma etapa vencida, espera merecer de todos, o mais amplo concurso para poder enfrentar, desassombradamente, o gravissimo problema de publicidade, que hoje, mais do que nunca, torna-se dificil e desanimador.