Juvenal Morena Penny, filho legítimo de José Morena Penny e Clarinda Crespo Penny, nasceu em Pelotas, no dia 15 do mês de Janeiro de 1884.
Um rápido histórico da vida de Juvenal M. Penny
Neste rápido registro, demos abaixo um breve histórico da vida do nosso amigo e fundador deste semanário sr. Juvenal M. Penny, figura de destaque nos nossos meios sociais e comerciais pelotenses :
No inicio de sua carreira foi tipógrafo, atividade que manteve durante vários anos, passando após a cuidar deste semanário exclusivamente.
Estudioso, Juvenal M. Penny, tornou-se um pirotécnico de valor, continuando sempre á testa da sua oficina gráfica.
Com a idade de 20 anos, em plena mocidade, após acurados estudos, Juvenal Penny, inventou o foguete de mão que subia sem flexa, hoje popular em todos os fabricantes de fogos de artifícios do Brasil.
Com 22 anos, inventou o foguete que subia sem fogo, que deixou de fabricar por tornar-se muito perigoso até mesmo para viajar, sem nunca tirar patentes porque sabia que a alma de cujos foguetes estava no cano ou no tubo.
Aos 23 anos, publicou os primeiros números de “ A Alvorada”, com a finalidade de propagar a igualdade de raça, o bem estar do operário e a instrução obrigatória, com o auxílio de muitos amigos e colaboradores, conseguindo vencer as três finalidades que se propusera entrar em luta, após 50 anos de constante batalhar.
Até ao ano de 1946 manteve em circulação este semanário, que suspendeu as suas atividades para dedicar-se exclusivamente ao fabrico de fogos e foguetes.
Hoje, Juvenal Penny, com a idade de 73 anos, encontra-se á frente de sua fábrica de fogos denominada “São Verissimo”, sendo, ainda, depositário e distribuidor nesta cidade, dos fogos “Caramurú” e de outros fabricantes de Brasil. Os seus inventos revolucionaram a indústria pirotécnica do Rio Grande do Sul, onde os seus produtos são vastamente conhecidos pelas suas excepcionais qualidades.
Eis aqui, em rápidas citações, um pouco da existência laboriosa do venerado conterrâneo, que na data de hoje, ao completar 50 anos, o semanario que fundou e que encontrou co….s segue a sua trajetória desenrolando com altivez o programa traçado desde sua fundação colocado na defesa de um ideal – Igualdade de raça, bem estar das classes operárias e instrução obrigatória – e mais ainda – o progresso da coletividade pelotense.
Ao Penny – o nosso abraço.
Texto publicado en la edição do cinquentenário do A Alvorada em 1957.
Juvenal Moreno Penny
A infância de Juvenal Penny
Infelizmente não tenho muita informação sobre a infância dos irmãos Durval, Juvenal e Nina. Juvenal era o irmão do meio.
Por diferentes documentos descobri que o senhor Antônio Baobab, um conhecido ativista e líder social, foi uma espécie de padrinho para os meninos. ele foi provavelmente o responsável de que eles começassem a trabalhar no jornal Arauto, onde aprenderam a profissão de tipógrafo.
Nessa época o trabalho infantil não estava mal visto, tanto é assim que a recém inaugurada Biblioteca Pública Pelotense organiza cursos de alfabetização para jovens trabalhadores.
Encontrei notícias dos irmãos Penny como alunos dos cursos da biblioteca no ano 1899, onde também coincidem com Rodolpho Xavier, irmão de Antônio, que será uma das personalidades mais importantes na trajetória do A Alvorada e da história negra de Pelotas.
Juntos e com outros amigos fundam o jornal A Alvorada em 1907.
Trabalhando de noite nas instalações do Arauto, depois de acabar o turno para criar um jornal com um ideal e com muitas expectativas! Foram muitos os companheiros nessa aventura e os seus nomes são lembrados nas páginas do semanário.
O jornal A Alvorada
Quando Durval se afasta para estudar medicina, o seu irmão Juvenal assume o controle do jornal e mantém firme o timão por mais de 30 anos, muitas vezes pagando com dinheiro do seu próprio bolso o custo de manter o A Alvorada, que no largo da sua trajetória atravessou momentos gloriosos com a direção de Juvenal Moreno Penny, mas também vários momentos complicados de crise econômica, social e política.
Dr. Pescadinha
Juvenal era um excelente tipógrafo, tinha fama de elétrico, de gestos rápidos, estatura pequena, um ouvido atento e uma língua ferina. Durante praticamente toda a trajetória d’A Alvorada escreveu uma coluna com o pseudônimo de Dr. Pescadinha em que fazia o papel de colunista social e juíz da moral alheia, sobretudo da feminina.
Fogos São Veríssimo
Juvenal em paralelo a sua atividade de tipógrafo fundou uma fábrica de fogos de artifício chamada São Viríssimo, em homenagem ao seu antigo chefe no jornal Arauto, o senhor José Veríssimo Alves.
Organizava espetáculos pirotécnicos para animar festividades onde aproveitava o ambiente para estreitar os vínculos e promover A Alvorada.
Combinando essas atividades manteve a publicação da A Alvorada de maneira regular, com épocas de grande esplendor.
A venda do jornal A Alvorada
Em 1946 Juvenal vende o jornal para um grupo de antigos colaboradores e trabalhadores de confiança, e a essência do semanário não muda. Evolui com as modas e a tecnologia de impressão, o semanário tem mais páginas de publicidade, se publicam mais fotos e a parte social ganha maior relevância, mas os textos críticos seguiam encontrando o seu espaço para reclamar os direitos dos negros.
Juvenal seguiu sendo lembrado cada ano no aniversário d’A Alvorada, assim como o seu irmão Durval e Antônio Baobab, o grande mentor de todos eles.
O amor de Juvenal e Izabel
Juvenal se casou com Izabel, da qual pouco sei, e infelizmente não encontrei nenhuma foto dela.
Pelo que a minha tia e a minha mãe contam ela era filha de uma escrava com um espanhol. Era uma negra pequeninha, linda e com o cabelo largo e liso.
Minha mãe lembra que quando era pequena conheceu o quarto da sua avó Izabel. Ela já tinha falecido fazia anos, mas ele mantinha o quarto igual. Minha mãe era criança e queria brincar com os bibelôs que decoravam a cômoda, mas o avô Juvenal proibiu. Era o seu tesouro.
Esse amor parece que nunca se acabou, mas infelizmente Izabel morreu muitos anos antes dele.
O que contam por aí do Juvenal Penny
E me contou o primo Jeferson, que conheceu um amigo do meu bisavô Juvenal, que lembrava dele com muito carinho e da sua companheira Luíza.
Não sei se eles tiveram outros filhos, infelizmente sei muito pouco da minha família. O meu avô José, tinha se distanciado do seu pai e a minha mãe era muito pequena.
O meu avô José contava que teve sete irmãos e todos morreram. Contudo pela informação que encontrei nas páginas d’A Alvorada ele tinha algumas irmãs, e uma delas se casou.
Não encontrei nenhuma menção ao casamento de Juvenal e Izabel na Alvorada, mas segundo a minha mãe, uma vizinha mais velha de Pelotas contou que os dois se casaram na igreja porque o meu bisavô pagou uma fortuna ao padre, já que nessa época não era normal que os negros e mestiços se casassem em igrejas de “brancos”. Existiam pequenas igrejas e sociedades religiosas somente para negros.
Essa amiga da minha mãe dizia que o meu bisavô Juvenal era italiano, uma ideia que se enraizou na família, e por anos acreditamos que ele era italiano e tinha mudado de nome aleatóriamente, provavelmente para fugir de alguma guerra. Pessoalmente considero esse um efeito secundário do racismo institucional do Brasil, a vontade de esquecer as origens africanas em nome de um passado europeu. Em menos de duas gerações ninguém sabia nada das lutas e conquistas do jornal A Alvorada e achávamos que a nossa origem era italiana ou inglesa.
O seu Penny e a loja de fogos de artifício
No Facebook encontrei um grupo de Pelotas que alguns usuários conheciam a loja e deixaram alguns comentários interessantes:
“Olá Jorge espero que estejam todos bem pôr meio dos primos mais velhos eles falam quê o Juvenal tinha uma fábrica dê fogos de artifício com o nome caramuru, nó meu serviço conheci um senhor conheceu o Juvenal eram vizinhos ele era gurizote e se lembra do Juvenal na época junina ele soltava fogos para gurizada”
“loja de fogos de artifício que ele tinha e que ficava na rua Barão de Sta. Tecla quase esquina Gen. Argolo.”
“Sim e era muito lido. Junto da redação havia uma loja de fogos do seu Penny. Muito comprei ali. Seu Penny era gente fina, não sei de que geração era. (anos 60)”
“Ele chamava a atenção dos clientes que fumavam, sobre o fato, com voz serena e com delicadeza…”
“Eu nasci em 1943, acho que comecei a frequentar a loja do seu Penny, nos anos 50. Não me lembro do nome dele. Lembro da preocupação dele com os fregueses fumantes, na época fumava- se em qualquer lugar.”